Uma tarde no arrozal

Narrado por Carla Veríssimo, com os contributos de Julieta Costa. Fotos de Carla Veríssimo e Julieta Costa.

10 Dez. 09:
Desde a última vez que fomos para o campo, a Dora encontrou um trabalho em Inglaterra e partiu dia 7. De ora em diante, passaremos a ter na equipa outra colaboradora.
Hoje decidimos fazer uma saída de apenas um dia, em duas linhas: uma na zona do Baixo Mondego e outra em Aveiro.
Como a nova colega não pode ir, levamos novamente a Rosário.
Estamos na zona do Paul de Taipal e do Paul de Arzila, em Montemor-o-Velho. Existem muitos salgueiros e amieiros, e o coberto vegetal é constituído por caniços, tabua, juncos e bunho.
Faço sozinha um troço da linha, que está sinalizado com BFDs (Bird Fligth Diverter) um tipo recente de dispositivos de sinalização para protecção contra colisões), enquanto a Rosário e a Julieta fazem uma parte não sinalizada.
Além dos BFDs, existem dispositivos anti-poiso/anti-nidificação (para protecção contra electrocussões) em todos os apoios.
Em cada apoio faço um círculo completo, para detectar alguma electrocussão.
Demoro 4 horas a prospectar os 2 km de troço, tendo na verdade que caminhar 4 km, já que tive que fazer os 2 lados da linha, primeiro seguindo num lado e depois voltando para trás no outro.
Além disso, o habitat é arrozal, e existem alguns canais de água que tenho de contornar até chegar novamente à linha.

Reparo em muitos túneis, feitos pelo Lagostim-vermelho-da-Louisiana (Procambarus clarkii), uma espécie introduzida, cujos túneis destroem as plantações de arroz, mas que ao mesmo tempo serve de alimento, entre outras espécies, a cegonhas e garças.










E vemos de facto bastantes cegonhas-brancas por ali.
Apesar de ser uma espécie migradora, cujas populações Europeias invernam em África, a cegonha-branca tem vindo a mudar os seus hábitos migratórios, invernando cada vez mais na Península Ibérica e Norte de África, o que poderá ser explicado pelas disponibilidades alimentares oferecidas tanto pelas lixeiras, um pouco por todo o lado, como pela introdução extremamente bem sucedida do Lagostim-vermelho.
Durante a tarde vemos ainda corvos-marinhos, garças, águias-de-asa-redonda e pegas-rabudas, mas nenhuma das 3 encontrou cadáveres ou outros vestígios.
Uma das águias-de-asa-redonda que vi pousada no apoio 22, estava pousada no apoio 21 quando voltei para trás, e uma que vimos pousada no vão entre o apoio 18 e o 19, estava no fim, pousada entre o 17 e o 18, notando-se claramente os seus territórios.
Apesar de serem duas, a Julieta e a Rosário também demoraram 4 horas: 3 horas a prospectar 1,6 km, pois encontraram muitos canais e tiveram que dar voltas enormes até conseguir chegar de novo à linha, e uma hora também a pé até voltarem à carrinha e me irem buscar ao ponto inicial.
Terminámos a linha do Mondego às 4 da tarde. Se fossemos para Aveiro, já não chegaríamos a tempo de prospectar a linha, com sol, por isso tivemos de regressar a casa e dar por terminado o nosso dia.
Antes ainda conseguimos almoçar em Montemor-o-Velho, apesar de serem já 5 da tarde!
Vou no banco de trás e sinto falta da companhia da Dora...

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